Sinopse:
Allyson é uma garota consumida por uma tragédia, e em meio a um desespero ela conhece alguém que irá lhe mostrar que a vida é um dom a ser celebrado. Em meio há tanta dor e angustia ela vai descobrir a redenção e um novo amor. Uma conto emocionante em uma noite de NatalNúmero de Páginas: 36
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Leia o primeiro Capítulo:
24 de dezembro de 2016, 20:00h
Allyson
As paredes do meu pequeno apartamento se
fecham ao meu redor. Começo a sentir uma nova onda de pânico se aproximando, o
meu coração dispara e flashes daquela noite começam a rodar em minha mente.
Dentro da minha cabeça o caos chega me fazendo erguer as mãos até ela e puxar
meus joelhos até meu queixo. Abraçada a mim mesma eu respiro fundo e declaro - Aguente firme Ally. Você consegue. Vai passar.
Eu canto o mantra que venho dizendo há exatamente seis meses. As memórias
daquele dia aparecem com um filme em minha visão.
- Vamos Ally já estou atrasada. – Alícia
minha irmã, três anos mais nova, aparece na porta do meu quarto frustrada. –
Quando eu chegar lá não vou ter tempo para me aquecer. – ela bufa.
- Só mais dez minutos. – eu pulo em minha
calça jeans. Eu cheguei atrasada, o Sr. Ray me prendeu até o último segundo na
loja em que sou balconista. É um emprego de merda, mas é a única renda que nos
sustenta e paga nossas contas atualmente. Desde que nossos pais faleceram eu
venho tentado de tudo para cuidar de Alícia, me tornei pai e mãe quando eles se
foram e quase a perdi pelo sistema de proteção a menores, larguei a faculdade e
fui trabalhar para nos sustentar. Assim que ela me disse que se morássemos mais
próximo à Nova Iorque ela teria mais chances com sua carreira, eu não pensei
duas vezes em fazer as malas e partir. Em Westwood, uma pequena
cidade perto da metrópole, eu consegui um emprego rapidamente onde
aluguei esse minúsculo apartamento de dois quartos, com sala e cozinha
conjugadas e um banheiro tão pequeno que temos que entrar de lado.
Um soluço rompe da minha
garganta enquanto lágrimas escorrem na minha face. Seis meses hoje. Sem minha
querida irmãzinha, minha melhor amiga e companheira. A dor que sinto em meu
peito nunca mais foi embora desde que acordei em uma cama de hospital e soube
que ela não tinha resistido. Estávamos no limite da cidade, ela estava se
maquiando no carro enquanto procurava uma música no rádio. Justamente naquele
dia de verão em junho, uma chuva torrencial desabou bem no momento que saímos
de casa. Eu me lembro de tudo. Cada maldito detalhe. O som dos limpadores com
seu vai e vem mal conseguindo dar conta de limpar o vidro. A canção suave que
Alícia colocou para tocar no rádio, Sugared Fairy de Tchaikovsky era essa
música ela tinha escolhido para se apresentar na audição. Lembro-me dela
reclamando que não conseguiríamos chegar a tempo e que eu estava indo muito
devagar.
- Allyson se eu perder
essa audição eu perco tudo! E a culpa será sua! Porque tinha que se atrasar
justo nesse dia? – ela diz nervosa ajeitando o coque que está perfeitamente
preso. Pisei fundo acelerando com o carro, indignada com seu ataque de
ansiedade. É claro que chegaríamos a tempo.
E foi neste instante, enquanto estávamos atravessando a grande ponte da
cidade, que eu senti o carro flutuando em uma poça d’água. Eu juro que tudo que
se passou a seguir foi exatamente como acontece em um filme. Pergunto-me se os
diretores entrevistam sobreviventes para relatar esse momento para fazer uma
cena de filme com tanta veracidade...
Tudo se passou em câmera lenta, o carro perdeu o controle na ponte e eu
fiz a única coisa proibida quanto se está em uma aquaplanagem. Eu pisei no
freio. O carro deslizou sobre a água empoçada na ponte e Alícia assustando-se
virou o volante. O carro capotou. Eu vi tudo... O estojo de maquiagem voando de
suas mãos se espalhando por todo teto enquanto voávamos. Seu celular que bateu
em minha cabeça. Meus cabelos negros que passaram voando pela minha visão
periférica. Seus gritos. Eu nunca me esqueço de seus gritos. Sete giros. E uma
forte pancada. Bem do seu lado. Depois apenas o silêncio e o cheiro de ferragem
e fumaça. Olho ao lado e Alícia é apenas uma confusão em sangue, está
desacordada em uma posição estranha feito uma boneca de pano mole com braços
retorcidos e cabeça tombada. Tento chegar até ela, mas estou presa pelo cinto e
esse pequeno esforço me faz gritar em dor, minhas pernas estão presas e meu
braço esquerdo está dilacerado.
Eu não sei quanto tempo
se passou. Eu entrei e sai de consciência por várias vezes. Toda vez que
acordava eu tentava desesperadamente chegar até ela. Eu puxava respirações
frenéticas tentando engolir ar e a dor rompia dentro de mim. Meus olhos viam
ferros retorcidos e muito vidro quebrado. Eu estava molhada devido à chuva que
entrava fria e forte pela janela. Minha mente não processava porque não
conseguia me mexer e desfazer o cinto de segurança, eu observava pelo tempo que
ficava acordada, as gotículas de chuva caindo no chão se espatifando e se
misturando formando um rio sobre o asfalto. Uma neblina fria começou a se
formar se juntando a fumaça que saia do motor do carro. Eu estava dormente,
apenas observando tudo isso e gravando em minha mente. O sol indo embora
trazendo a noite gelada e meu pensamento era que Alícia ficaria tão brava
comigo, nesse momento percebi que não iriamos chegar a tempo para sua audição.
Eu virei para o lado e vi seu cabelo castanho claro tingido de vermelho e sua
cabeça torta de um jeito estranho, ela nunca se mexia. Eu sabia que ela estava morta,
só não queria aceitar naquele momento, até hoje custo a acreditar que tudo
aquilo aconteceu de verdade.
Ainda tem dias que acordo
e penso que tudo não se passou de um sonho ruim, mas aí entro no seu quarto e
não a encontro. Vejo-o exatamente do jeitinho que ela deixou antes de sair de
casa, a sua velha sapatilha de balé no chão perto da cama, os grampos de cabelo
espalhados pela mesinha de cabeceira, como se ela toda noite antes de dormir
desfizesse seu coque e os deixasse ali naquele local, seu mural de fotos com as
inúmeras apresentações de dança. Nossas fotos no parque quando tiramos no dia
que fizemos um pique nique assim que nos mudamos para a cidade. Tudo está do
mesmo jeitinho que ela deixou, não tive coragem de tocar em nada. Sinto como se
desfizesse de suas coisas estaria a perdendo mais uma vez...
Eu perco a consciência
mais uma vez naquela noite e depois disso há um buraco em minha mente que não
consigo lembrar mais nada do que aconteceu a seguir. Toda noite tenho pesadelos
com o acidente, mas às vezes sonho que ouço passos rápidos batendo contra poça
de água, um latido rouco de um cão e depois sons agudos de ambulância.
Raramente em um desses sonhos eu vejo uma silhueta em cima de mim. Ouço uma voz
suave me dizendo pra ficar calma que tudo ficaria bem, mas eu nunca consigo ver
seu rosto. Consigo sentir o toque de sua mão quente no meu rosto enxugando
minhas lágrimas. Mas é tudo um borrão. Ou apenas minha mente me confundindo. Eu
acordei no hospital dois dias depois com a notícia que mudaria minha vida pra
sempre. Alícia morreu na hora, sem dor sem sofrimento. Seu pescoço se partiu
devido ao impacto. Já eu passei por duas cirurgias e meses de fisioterapia.
Tive que enterrar minha irmã sozinha. E junto com ela foi um pedaço de mim.
Toda parte boa para ser mais especifica. O que restou agora é apenas uma casca
seca e oca, cheia de dor e remorso. Culpa.
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